A depressão resistente agora pode ter um tratamento muito mais eficiente, com relato de melhora em até 2 horas em alguns casos. Entenda como funciona o tratamento com cetamina e se ele pode ser indicado para você.

Muitos dos pacientes com depressão resistente sentem-se desesperançosos. Geralmente, enfrentam a doença há anos e os antidepressivos não surtem tanto efeito. Com isso, a vida parece perder cada vez mais a cor e a apatia toma conta.

No entanto, em alguns casos, mesmo com um tratamento intensivo, acompanhado pelo psiquiatra e psicoterapeuta, o paciente não reage mais às terapias e a tentativa de novos medicamentos fica cada vez mais desacreditada.

Além desses casos,  noutros em que há a ideação suicida (pensamento e desejo de morte), a situação pode ficar ainda mais complicada, pois a vida do paciente está em risco iminente.  

Mas existe uma boa notícia. Nos últimos anos, estudos realizados principalmente nos Estados Unidos, descobriram a eficácia de um antigo fármaco, produzido há mais de 50 anos e utilizado como anestésico, para o tratamento da depressão resistente: a cetamina.

Esse medicamento, quando aplicado em dose menor do que o seu uso como anestésico, e com acompanhamento do psiquiatra, mostrou-se bem-sucedido em 75% dos casos de pacientes com depressão resistente ou com ideação suicida. Isso gerou uma nova esperança para pacientes e médicos, que ganharam um novo aliado no combate a esse transtorno mental que atinge milhões de pessoas no mundo.

O que é a cetamina?

A cetamina, que também pode ser chamada de ketamina ou escetamina é um fármaco de efeito anestésico, muito utilizado para induzir ou manter anestesia, além de também ser utilizado para o tratamento de dores intensas.

É reconhecida e bastante utilizada por hospitais para os fins acima, justamente por ser considerada segura e regulamentada por órgãos como a FDA (Food and Drugs Administration – agência reguladora nos EUA e Anvisa, no Brasil).

Ela existe desde 1962, mas foi somente nos últimos 10 anos que descobriu-se também poderia ser utilizada, em doses muito menores do que para fins anestésicos, para o tratamento da depressão resistente unipolar e bipolar.

No Brasil, existem poucos centros que estão autorizados a realizar o tratamento com este fármaco. O Instituto de Psiquiatria Paulista é um deles, através do Instituto de Infusões Paulista – Centro de Cetamina. 

Infelizmente, a cetamina é utilizada por algumas pessoas para fins recreativos, em altas dosagens (até 100 vezes maior do que para fins psiquiátricos) e seu uso dessa forma pode sim trazer prejuízos à saúde. 

O que é uma depressão resistente?

O tratamento de uma depressão não é algo simples e necessita de paciência por parte do paciente e do psiquiatra. Ao ser diagnosticado, o médico prescreverá um medicamento e em que dose ele deverá ser administrado. Junto a isso, fará o acompanhamento para identificar se o efeito está sendo positivo.

É comum que não haja melhora nas primeiras duas ou três semanas de tratamento, mas após esse período, ela deve ocorrer. Caso contrário, realiza-se a troca da medicação ou o ajuste da sua dosagem.

No entanto, quando o paciente volta ao estado inicial após algum período com o medicamento ou não apresenta melhora significativa de acordo com as suas trocas, pode ser um caso de depressão resistente e esse diagnóstico é dado pelo próprio psiquiatra. 

Ou seja: considera-se depressão resistente quando o paciente é resistente aos antidepressivos, mesmo após sucessivas tentativas de acerto na medicação.

A depressão e o cérebro

Para entender como os antidepressivos agem e o que a cetamina faz de diferente no tratamento, é importante sabermos como a depressão atinge o cérebro e vamos explicar isso de forma bem breve.

Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a depressão é uma deficiência química no cérebro, em que os neurotransmissores como a serotonina e a noradrenalina não conseguem ser transmitidos de um neurônio ao outro. Ou seja, é como se houvesse uma falha na comunicação.

Com isso, é como se o cérebro ficasse com sua capacidade de reação aos estímulos reduzida e atividades que antes davam prazer não dão mais, a disposição para realizar atividades fica difícil e por aí vai.

Como os antidepressivos normais agem?

Os antidepressivos são fármacos que agem diretamente aumentando a concentração de neurotransmissores, principalmente as monoaminas, que são serotonina, dopamina e norepinefrina. Com isso, há mais disponibilidade dessas substâncias para que a comunicação entre os neurônios melhore.

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Como a cetamina age no tratamento da depressão?

O tratamento da depressão resistente com a cetamina é diferente dos antidepressivos convencionais justamente pela forma como esse medicamento age no cérebro.

Como você viu no bloco anterior, os antidepressivos atuam nas monoaminas, aumentando a capacidade de resposta e comunicação dos neurônios através da maior disponibilização. 

Enquanto isso, a cetamina age em outra substância, o glutamato. O glutamato é um aminoácido presente no cérebro, mais especificamente no sistema nervoso central, que atua como um neurotransmissor excitatório. 

Esse aminoácido também auxilia no desenvolvimento neural e na plasticidade sináptica, que é a capacidade do fortalecimento ou enfraquecimento das sinapses responsáveis por uma série de funções cognitivas. Justamente por isso, as monoaminas estão diretamente relacionadas ao aprendizado e memória, além de terem relação com o retardo de doenças neurodegenerativas.

A cetamina também tem um importante papel no reparo e reconstrução de circuitos cerebrais, aumentando o número de sinapses e, consequentemente, a capacidade de comunicação entre os neurônios.

Ou seja, diferentemente dos antidepressivos que somente aumentam a disponibilidade de substâncias para a comunicação neural, a cetamina acaba agindo como um auxiliar na ‘reconstrução da ponte entre esses neurônios’, promovendo o restabelecimento de uma comunicação cerebral fluida.

Ademais, enquanto os antidepressivos demoram entre duas ou três semanas para agirem de forma que seus efeitos positivos sejam sentidos pelo paciente, a cetamina é quase instantânea e alguns casos. 

Pacientes com depressão resistente chegam a relatar melhora logo após a primeira aplicação do fármaco. Outros, vão sentindo avanços consideráveis ao longo das sessões, promovendo a redução geral dos sintomas do quadro depressivo refratário e aumento do bem-estar e qualidade de vida do paciente.

Em casos de ideação suicida, os pensamentos e desejo de morte costumam se esvair logo após a sessão.

Como funciona o tratamento com cetamina?

O tratamento com cetamina é simples, indolor e com baixíssimo risco para o paciente. Consiste na aplicação de cetamina via infusão (quando o medicamento é aplicado por via subcutânea, na veia, em um espaço de tempo) entre 8 ou 12 sessões semanais, dependendo do caso e da resposta do paciente.

Cada sessão dura entre 60 ou 90 minutos entre a chegada do paciente, aplicação da cetamina e saída. O processo é tranquilo e os pacientes costumam ficar bem relaxados.  É possível até mesmo ouvir uma música ou um som relaxante nos fones de ouvido durante as sessões.

Algumas sensações como leveza, pequena dormência e sensação de aumento de percepção sensorial podem ocorrer, mas são normais no pico da aplicação e ficando ausentes antes da saída. 

É importante salientar que esse procedimento só pode ser realizado em centros autorizados para este fim específico no Brasil, com equipe capacitada, equipamentos adequados e acompanhamento de psiquiatra. 

Além disso, o tratamento com a cetamina deve ser feito concomitantemente com o uso normal dos antidepressivos para obtenção de melhores resultados e diminuição dos raros efeitos colaterais.

A resposta à infusão de cetamina costuma ser rápida, ocorrendo em algumas horas logo na primeira sessão. O tratamento com mais sessões auxilia, além do bem-estar e melhora gradativa naquele período de tempo, à remissão da depressão resistente, em alguns casos, ou recuperação significativa e duradoura, desde que observadas e seguidas as orientações do seu psiquiatra.

Qual a indicação para o uso da cetamina?

Quando o paciente é diagnosticado com depressão resistente e enfrenta uma perda significativa da sua qualidade de vida por conta da ineficiência, intolerância ou falta de resposta de todos os tratamentos e medicamentos utilizados até então, recomenda-se o tratamento com cetamina. 

Em casos de ideação suicida, quando o paciente encontra-se com fortes pensamentos e desejo de morte, também há a indicação, pois a cetamina consegue uma boa reversão quase instantânea nesses quadros.

O seu psiquiatra é quem deve indicar o tratamento com a cetamina para você, pois ele conhece o seu histórico de tratamento e pode sugerir a melhor solução. Você também pode pedi-lo ou perguntá-lo sobre essa possibilidade no seu caso e, se juntos decidirem ser uma boa solução, ele realizará o encaminhamento para o centro especializado que fará as aplicações e manterá comunicação constante com ele. 

Todos esses processos são pensados para garantir a segurança e o bem-estar do paciente.

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Existem riscos e contra-indicações?

A cetamina é uma fármaco reconhecidamente seguro, aprovado pelos órgãos de saúde e muito utilizado há mais de 50 anos. O seu uso para fins psiquiátricos é em doses muito menores do que para fins anestésicos. Ainda assim, esse medicamento possui um ótimo perfil de segurança, ou seja, pode ser administrado sem grandes chances de reações adversas.

Cabe somente ao médico psiquiatra ou equipe médica avaliar se existe alguma possibilidade de contra-indicação ou risco em casos específicos. Mesmo assim, são raras as contra-indicações para o uso da cetamina em pacientes com depressão resistente unipolar e bipolar. 

Por que a cetamina é considerada uma revolução no tratamento da depressão?

Considerada a maior descoberta desde o começo da utilização do Prozac (fluoxetina) para o tratamento de depressão, a cetamina já ajudou a proporcionar uma nova realidade para uma série de pacientes em depressão resistente no mundo e, por enquanto, de uma forma ainda um pouco tímida no Brasil.

As grandes vantagens, além da melhora comprovada em vários testes na última década, é que a cetamina é considerada um medicamento seguro e que proporciona um efeito mais rápido do que os antidepressivos comuns.

Além disso, ajudou a reverter casos de depressão resistente de muitos anos, em pacientes que já haviam perdido as esperanças nos tratamentos convencionais.

Para que todos os seus efeitos benéficos sejam proporcionados ao paciente, é necessário que haja a indicação e acompanhamento médico e pela indicação do psiquiatra, que é quem acompanha o paciente e sabe do seu histórico. Da mesma forma que a aplicação deve ser feita somente em local autorizado.

Converse com o seu psiquiatra

Se você é paciente diagnosticado com depressão resistente e acredita que o tratamento com cetamina pode ajudar você a superar esse transtorno, converse com o seu psiquiatra. Ele é o profissional com o conhecimento técnico capaz de saber o melhor tratamento para você, além de acompanhar o seu histórico como paciente.

O Instituto de Psiquiatria Paulista possui um centro dedicado à infusão de cetamina em São Paulo para fins psiquiátricos e opera com toda a responsabilidade para trazer uma nova esperança aos pacientes. Saiba mais!

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